
Organizado por Silvia Fernández e Gui Bonsiepe, Historia del Diseño en America Latina y el Caribe: Industrialización y comunicación visual para la autonomía apresenta um panorama dos últimos 50 anos (!) do design latino, relacionando-o com as respectivas políticas econômicas, sociais e industriais. O livro é editado pela Edgard Blücher, mas até o momento não há indícios de uma versão em português.
O livro é dividido em duas partes: “História del diseño por país” e “Influencias e prospectivas”. A primeira parte trata da história do design em diversos países latino-americanos (Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, Chile, Equador, México, Uruguai e Venezuela). A segunda complementa a primeira, com textos que tratam das influências e motivadores do design latino-americano, além de propor novas questões e reflexões.
De quebra, a publicação traz ainda o manifesto First things First, de 1964.
Fica aqui a torcida para que a Edgard Blücher lance em breve este livro no mercado brasileiro, com a devida edição em português.
Um feliz ano novo para todos!
Muitos amigos meus “aderiram” ao iPhone. São entusiastas da tecnologia, quase todos trabalham na indústria de software (ou de mídia interativa, como preferirem). O produto é realmente incrível. Não se trata de um telefone, é um computador de bolso que permite, inclusive, realizar ligações telefônicas. E o projeto da interface é um espetáculo a parte.

Como já discuti anteriormente (aqui e aqui), esse é mais um produto baseado no paradigma tecnológico do canivete suíço. Um mesmo aparelho contém inúmeras ferramentas/funções.
Acho o iPhone genial. Mas não comprei um até o momento por alguns motivos.
O primeiro motivo é que, como telefone celular, ele não me agrada. É grande e chama a atenção. Como eu ando muito de transporte público ou a pé, tudo o que eu não quero é um telefone de 400 dólares chamando a atenção da marginália que assola essa cidade. Um investimento não muito barato, comparado ao meu telefone que me custou 25 reais (apesar de na época ser vendido a 99) e me serve perfeitamente, como telefone. Tá certo que o iPhone não é “só” um telefone, mas ainda assim…
O segundo motivo é o preço. É um aparelho relativamente caro – talvez não tão caro quanto outros da categoria “smart phones”, mas de qualquer forma fora do meu orçamento. Levando-se em conta que não me sentiria a vontade de usar um telefone desses na rua, com medo de assaltos, eu provavelmente não compraria pelo “telefone”, mas pelo “computador de bolso” que ele é. Nesse caso, não poder usá-lo tranquilamente como telefone é um ponto negativo, uma infeliz contingência da minha situação de morador do Rio de Janeiro que não se isola em um condomínio fechado ou dentro de um carro. Estou mais sujeito à violência e esse é um fator a se levar em conta.
O terceiro motivo é que não sei se quero ter um computador comigo o tempo todo. Minha relação com os computadores é um pouco esquisofrenica. Gosto de usar computadores, e uso muito, desde a década de 80, quando computador pessoal era coisa raríssima aqui no Brasil. Acho que uso mais do que deveria. E essa possibilidade de estar “conectado” a qualquer tempo, em qualquer lugar, não me agrada tanto…possivelmente se eu tivesse um iPhone eu usaria bastante, ficaria mais tempo online. E não sei se quero isso. As vezes sinto que preciso me desligar um pouco…e por incrível que pareça, apesar de ser simples desligar um aparelho, não é tão simples se desligar do aparelho. Faz parte da lógica do próprio objeto esse uso, o fato dele permitir conexão constante acaba por induzir essa conexão ininterrupta. Os estudiosos de Media Ecology explicam isso melhor do que eu. Os artefatos criam um meio ambiente próprio e condicionam o seu uso.
Mas o motivo principal é que acho o iPhone um produto da categoria que gera estresse. Não somente pelo fato de ser um canivete suíço, de ter mais funções do que eu dou conta de usar. Não somente pelo fato de me colocar mais tempo conectado, mais tempo imerso no ciberespaço, mais tempo com minha atenção focada no computador e desligado do meu entorno. O que me incomoda mais é que ele segue a lógica da obsolescência de software. Segue o paradigma do produto como serviço, o produto fluido, em constante mudança.
Meus amigos que compraram iPhone estão nesse momento atualizando o software que faz o bicho funcionar. O mesmo se dá com o iPod. E como em geral acontece na indústria do software, as novas versões vêm com ‘bugs’. E algumas vezes, com as atualizações mudam algumas características da interface, fazendo com que seja necessário reaprender a usar o mesmo produto.
Sinceramente, eu não suporto essa lógica da atualização. Eu resisto até onde for possível a atualizar os programas do meu computador. Eles demandam máquinas mais poderosas, muitas vezes para fazer quase as mesmas coisas que versões antigas fariam. A cada atualização de software o computador fica mais pesado, lento, e acaba sendo necessário atualizar também o hardware. E com isso, lá se vai o dinheiro. É um processo que não tem fim, porque disso depende a indústria de informática.
Eu acho o fim da picada ter que ficar atualizando o software. Já pensou ter que fazer isso para um telefone funcionar? Eu sei, o iPhone não é só um telefone…mas, e se eu quiser usá-lo como um telefone e pra isso tiver que atualizar o software a cada ano? Me parece uma involução.
Pode ser o sinal dos tempos. Não se pensa mais tanto em produto, mas em serviço. Os produtos são meras atualizações de um projeto em constante desenvolvimento, um recorte temporal de algo que evolui ao infinito. Será que esse é o preço a pagar? Acho que não precisa ser assim…existem outros caminhos. Pelo menos é nisso que acredito, e é isso que move meu trabalho como pesquisador.
Enquanto isso, vou usando meu telefone simples, que me permite falar com quem eu quiser sem muita frescura, sem ter que atualizar coisa alguma. E o computador de bolso fica pra outro dia. Porque eu preciso ficar off-line de vez em quando.

A “evolução” da marca da Vale do Rio Doce
Tenho acompanhado muito por alto a pequena polêmica sobre o novo logotipo da Vale do Rio Doce (agora, somente “Vale”). Gostava da versão anterior, bem sintética, graficamente interessante. A solução nova, além de apresentar pequenos problemas de entreletra e na relação de peso entre símbolo e tipografia, me parece mais frágil, efêmera. Nasceu datada, ligada a uma estética contemporânea pouco duradoura. Pode nem ser o caso, mas é a impressão que me dá.
Com certeza alguns argumentariam que o logo anterior também tinha traços característicos da época em que foi criado, e portanto também era datado. Particularmente acredito que existe uma diferença grande entre os contextos de criação. A solução atual, me parece, segue uma tendência menos preocupada com a durabilidade, com a longevidade da comunicação. Faz parte da lógica atual, a “modernidade líquida”, como diz Bauman. Os tempos de solidez e de projetos pensados para durar ficaram para trás.
Pode ser um sinal dos tempos. Em um mundo que valoriza o descartável, o supérfluo, talvez não faça mais sentido pensar em um projeto que pretenda durar décadas. Mas ainda assim, prefiro a marca antiga da Vale do Rio Doce, assim como prefiro pensar em coisas duradouras.
Isso me faz lembrar do caso das Sardinhas Coqueiro. O logotipo e o projeto de embalagem feitos por Alexandre Wollner duraram 50 anos. Após um redesenho chegou-se a um (terrível) resultado que foi modificado duas vezes em apenas 2 anos – e continuam mudando. As mudanças agoram são baseadas em merchandising, não em identidade visual. As embalagens atuais parecem um anúncio de revista, tamanha a quantidade de informação colocada. E o logotipo não chega aos pés do trabalho sintético e elegante feito por Wollner.

No alto, a antiga marca da Sardinhas Coqueiro feita por Wollner, e embaixo a marca mais recente.

No alto, as antigas latas das Sardinhas Coqueiro feitas por Wollner, com a inteligente sugestão geométrica da sardinha no contraste claro-escuro, resolvida somente com 2 cores. Embaixo a linha de embalagens mais recente. Não há padronização de formato e necessariamente usa-se policromia, aumentando os custos de produção.
E por falar em Wollner, não custa relembrar o trabalho feito por ele para a Vale do Rio Doce, anterior à marca que foi substituída agora.

Marca da Vale do Rio Doce feita por Alexandre Wollner, em 1971
Em tempo (1): a nova marca da Vale foi feita pela empresa de arquitetura e design Cauduro Martino, parceira brasileira da empresa norte-americana Lippincott Mercer. Curiosamente, foi a mesma empresa responsável pela marca do banco Real ABN-AMRO. Mais informações sobre a nova marca da Vale podem ser encontradas no site da empresa.
Em tempo (2): a Calçados Vitelli vai processar a Vale. Veja a notícia no site do O Globo.
Nova aquisição da minha modesta biblioteca: A Forma do Livro: Ensaios sobre Tipografia e Estética do Livro, de Jan Tschichold. Editado pela Ateliê Editorial, faz parte da ótima coleção Artes do Livro.


Leitura obrigatória para quem se interessa por design gráfico, escrito não só por um grande designer, mas sobretudo por um pesquisador do assunto. O livro apresenta uma série de ensaios de Tschichold, escritos ao longo de 26 anos (de 1949 a 1975).
É uma felicidade contarmos com mais um livro de referência sobre composição tipográfica, um dos pilares do design gráfico, em língua portuguesa – a tradução é de José Laurenio de Melo. Fica aqui a torcida para que outras obras desse tipo não demorem tanto para serem publicadas no Brasil.
Como a leitura dos livros que eu preciso ler está mais do que atrasada, esse infelizmente vai para a estante, ficar junto com os livros que eu quero ler, aguardando um momento mais tranquilo para ser apreciado devidamente.
Recebido por email:
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pretende, a partir do próximo ano, levar em conta os bens não-físicos das empresas ao analisar créditos e conceder empréstimos. O banco estabelecerá critérios para quantificar itens que antes não eram considerados, como os investimentos em tecnologia, conhecimento e transparência. Entre os bens intangíveis estão incluídos design, marcas e patentes. A metodologia para avaliação desses bens não-físicos está sendo desenvolvida pela Coppe/UFRJ (Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e já foi aplicada, como teste-piloto, em quatro empresas de diferentes portes e áreas de atuação: Embraer (setor
aeronáutico), Suzano (papel e celulose), Genoa (biotecnologia) e Totvs (tecnologia da informação). O reconhecimento oficial do design como capital intangível abre novas oportunidades para a atuação da comunidade dos designers junto aos setores produtivos, procurando expandir a participação do design na política estratégica das empresas.
Via Sinal-ESDI.
Pedro Luiz Pereira de Souza, o Pedrão, ministrará um curso em Recife, falando sobre o design moderno e seus aspectos ideológicos, filosóficos e políticos. O curso é gratuito, e na minha opinião imperdível. Quem estiver em Recife merece se dar este presente.
São apenas 50 vagas. Os interessados devem enviar carta de intenção e currículo resumido para o email oficinas.centrodesignrecife@gmail.com até o dia 31 de outubro. As aulas acontecerão entre 19h00 e 22h00 no auditório do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, na Rua da Aurora, 265 (Boa Vista), Recife.
Pedro é uma pessoa incrível, uma referência fundamental na minha formação profissional e na maneira como enxergo o papel do design atualmente. Sem dúvida essa é uma chance imperdível para aqueles que estão em Recife.

Pedro Luiz Pereira de Souza, o Pedrão.
Vale conferir a entrevista que Pedrão deu ao Boletim Eletrônico SINAL da ESDI, em junho de 2007, por ocasião de um curso semelhante que ministrou em São Paulo. Dá uma idéia do que será o curso.