28 de abril, 2000

Redesignando a WWW: o papel do design na democratização da World Wide Web

Considerações finais

A partir dos dados apresentados, pode-se perceber que a evolução e a difusão das tecnologias de informação têm sido acompanhadas com interesse por teóricos de diversas áreas, sendo interpretadas sob óticas diversas e constantemente antagônicas; ora as mudanças ocorridas no cenário tecnológico e suas conseqüências no âmbito social, econômico e político, são associadas a uma possibilidade de alteração do quadro de desigualdade social e de construção da experiência coletiva, ora são vistas como mecanismos de manutenção da ordem vigente e como ferramentas de promoção do isolamento, da alienação e do empobrecimento da diversidade cultural da humanidade. Essa pesquisa procurou destacar os argumentos mais freqüentes de ambas as correntes, analisando-os à luz das inovações tecnológicas atuais, sempre na perspectiva de compreender as implicações da difusão do uso da Internet nos países periféricos.

Cabe ressaltar que no decorrer da pesquisa foi necessário estabelecer um limite no que se refere à busca de informações a respeito do desenvolvimento das novas tecnologias, posto que estas encontram-se em constante evolução, em um ritmo acelerado que dificilmente permitiria acompanhar com eficiência as mudanças em curso. Em vista disso, mais do que procurar apresentar detalhadamente as inúmeras variações do quadro tecnológico, buscou-se compreender as questões de fundo que acompanham esse desenvolvimento. O que se percebe é que de fato, a despeito do potencial transformador das tecnologias de informação, essas ferramentas têm se prestado à manutenção das desigualdades sociais, ao controle e exploração dos países periféricos pelos centros econômicos, ao sufocamento das manifestações culturais diversas aos modelos forjados nos países centrais.

Não obstante, ainda é possível enxergar alguma espécie de reação a esse movimento de controle, o que pode ser percebido nas iniciativas da sociedade civil organizada e casos isolados de alguns órgãos governamentais que têm agido no sentido de criar condições para permitir o acesso público à rede, na tentativa de integrar os indivíduos que se encontram à margem da sociedade da informação. No entanto, pouco tem sido debatido a respeito das limitações cognitivas do modelo vigente na Internet, o que impediria a participação efetiva de indivíduos que não partilham do universo simbólico que baliza a compreensão dos mecanismos de comunicação da rede.

A partir dessa constatação, buscou-se destacar a importância do design na proposição de alternativas ao sistema atual, de maneira a permitir a participação de outros grupos sociais na dita revolução informacional. Nesse sentido, foi fundamental resgatar a discussão sobre o papel social do designer, para resignificar sua importância como elemento para promoção da melhoria da qualidade de vida da população. Sem dúvida essa pesquisa propõe uma releitura política da própria atividade, que constantemente tem se desvinculado de uma reflexão sobre sua participação na manutenção do quadro de desigualdade sócio-econômica atual. O diálogo com autores do campo do design e áreas afins que vêm trabalhando essas questões ao longo do tempo foi fundamental para situar a discussão. Espera-se que essa pesquisa contribua para aprofundar os debates acerca do papel do designer na sociedade contemporânea.

A popularização da World Wide Web e a conseqüente valorização do trabalho de web design, a criação de interfaces gráficas para os sistemas de informação da Internet, a aplicação de recursos multimidiáticos de forma cada vez mais intensa na rede, indicam uma possibilidade de atuação do designer no sentido de ampliar o universo de usuários possíveis desses sistemas, de maneira a permitir a participação efetiva de grupos marginalizados na sociedade da informação, cujos repertórios simbólicos são desconsiderados na implantação das tecnologias de telemática. Dada a interdisciplinariedade que caracteriza a área do design, operando muitas vezes com questões de cunho antropológico, filosófico, psicológico assim como lidando com aspectos técnicos, formais, o designer possui um papel de destaque na criação de interfaces gráficas que contemplem outros universos simbólicos além dos que vêm guiando o desenvolvimento da WWW.

A partir da análise de um caso específico, o design de ferramentas de busca, fica evidente a prevalência de um modelo que desconsidera a possibilidade de participação de indivíduos com diferentes repertórios simbólicos na sociedade da informação, o que deixa explícita a distância existente entre os usuários que navegam na rede e aqueles que estão à margem da sociedade da informação, mas que ainda assim serão afetados pelo desenvolvimento e disseminação das tecnologias de telemática. É preciso buscar caminhos que permitam minimizar a distância entre a pluralidade cultural, cognitiva inerente à humanidade e o sistema excludente que tem orientado o desenvolvimento da rede. Nesse sentido, fica clara a importância do design para a criação de interfaces gráficas que rompam com os limites estabelecidos pelos colonizadores do ciberespaço.

As discussões tratadas aqui sem dúvida não constituem per si soluções para a problemática da democratização do uso da Internet; o que se pretende – a partir do mapeamento da evolução da rede, da discussão acerca dos aspectos contraditórios que têm marcado o desenvolvimento desse veículo, do diálogo com teóricos do campo de design resgatando a discussão acerca do papel social dessa atividade, da constatação da existência de uma lógica imperialista globalizante que submete os povos a um modelo descontextualizado, evidenciada a partir da análise dos mecanismos de busca – é que seja possível destacar a importância e responsabilidade social do designer na proposição de alternativas que subvertam essa estratégia dominadora, buscando redesignar a WWW como um sistema adaptável a diferentes contextos, de maneira a permitir a participação ativa daqueles que estão à margem da sociedade da informação, enriquecendo efetivamente a experiência humana.

Espera-se que o material aqui reunido seja utilizado para promover o debate, incentivando desdobramentos em pesquisas posteriores sobre o assunto, e que contribua para uma praxis mais consciente e questionadora. O designer deve tomar para si o papel de poeta dos meios tecnológicos, e participar ativamente da construção de uma sociedade mais justa.

 

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