Chegando ao trabalho hoje, após uma manhã chuvosa, os eucaliptos exalavam um aroma arrebatador, antecipando um dia bom.
Saudades de Mauá…

*12 de outubro de 1923
+11 de outubro de 2004
Como ando completamente desconectado do mundo – sem ler jornais, sem ver revistas, sem ler blogs, sem navegar na Internet – demorei a tomar conhecimento do falecimento de Fernando Sabino, pelo blog do Augusto.
Lembro de ter lido, ainda guri, O Menino no Espelho, meu primeiro contato com Fernando Sabino. Uma gostosura de ler! Depois, vários contos, igualmente deliciosos…leitura agradável, de deixar a gente tranquilo. Ultimamente iniciei a leitura do livro com a correspondência trocada com Mário de Andrade, mas não dei conta de terminá-lo.
Fico triste pela morte do Sabino. Mas a obra fica, pra nosso deleite.
Desde que conheci Paulo Freire, fiquei fã de carteirinha. Abriu minha cabeça, me fez entender a “educação” de outra maneira. A leitura de seus textos sempre me causa emoção…textos diretos, simples, mas de uma beleza única, carregados de poesia. Não se trata apenas da forma, mas principalmente do significado ali expresso, profundamente político, tranformador.
Recentemente veio parar em minhas mãos um texto sobre “A importância do ato de ler”, transcrição de uma palestra proferida em Campinas, no Congresso Brasileiro de Leitura de 1981. Posteriormente foi editada em livro (referência abaixo).
Eu adorei esse texto. Seguem alguns trechos, para aqueles que tiverem interesse:
Me parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do momento mesmo em que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo em que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo que envolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na descodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.
Nesse texto, ele traz o conceito da “palavramundo”, aquela que estabelece uma relação entre a linguagem e a realidade. E para exemplificar, fala de sua infância, das suas primeiras leituras, das leituras do mundo:
Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife, rodeada de árvores, algumas delas como se fossem gente, tal a intimidade entre nós – à sua sombra brincava e em seus galhos mais dóceis à minha altura eu me experimentava em riscos menores que me preparavam para riscos e aventuras maiores. A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o sítio das avencas de minha mãe -, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu primeiro mundo. Nele engatinhei, balbuciei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele mundo especial se dava a mim como o mundo de minha atividade perceptiva, por isso mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras. Os “textos”, as “palavras”, as ” letras” daquele contexto – em cuja percepção me experimentava e, quanto mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber – se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão eu ia apreendendo no meu trato com eles, nas minhas relações com meus irmãos mais velhos e com meus pais.
Essas experiências são a gênese do “método Paulo Freire” de alfabetização. Uma alfabetização que vem da leitura do mundo. Aprender a ler através da “palavramundo”. E aprender a ler implica também a aprender a escrever, a re-escrever o mundo. A prática transformadora da educação é um dos pontos principais de Paulo Freire.
Inicialmente me parece interessante reafirmar que sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como um ato criador. Para mim seria impossível engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Daí que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse “enchendo” com suas palavras as cabeças supostamente “vazias” dos alfabetizandos. Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem. Na verdade, tanto o alfabetizador quanto o alfabetizando, ao pegarem, por exemplo, um objeto, como faço agora com o que tenho entre os dedos, sentem o objeto, percebem o objeto sentido e percebido. Como eu, o analfabeto é capaz de sentir a caneta, de perceber a caneta e de dizer caneta. Eu, porém, sou capaz de não apenas sentir a caneta, de perceber a caneta, de dizer caneta, mas também de escrever caneta e conseqüentemente, de ler caneta. A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando. Aí tem ele um momento de sua tarefa criadora.
Creio desnecessário me alongar mais, aqui e agora, sobre o que tenho desenvolvido, em diferentes momentos, a propósito da complexidade deste processo. A um ponto, porém, referido várias vezes neste texto, gostaria de voltar pela significação que tem para a compreensão crítica do ato de ler e, conseqüentemente, para a proposta de alfabetização que me consagrei. Refiro-me a que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Na proposta a que me referi acima, este movimento do mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente.
Os grifos são meus. Quem quiser ler este texto na íntegra, e outros artigos, segue a referência:
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p.
Enfim encerram-se as aulas. Com alunos pedindo pra prorrogar mais ainda o já dilatado prazo de entrega, finalizo o semestre letivo.
Na minha avaliação, apesar dos inevitáveis erros ao longo do curso, o saldo foi positivo. O melhor de tudo é terminar o semestre e ter a sensação de ter contribuído de alguma forma para o crescimento pessoal de alguns estudantes. Ter despertado neles um olhar mais atento às questões de Design, segundo me disseram. A maior satisfação é ver um trabalho de final de curso bacana, bem projetado; ver o brilho nos olhos dos criadores, ouvir eles dizendo que foi importante ter realizado aquilo e o quanto aprenderam no processo de desenvolvimento.
O lado triste da profissão, como destaca um professor colega meu, é que depois de tanto tempo com os alunos a gente fica se sentindo abandonado ao final do curso. Ser professor é ver passarem pessoas por sua vida…pequenas amizades que você faz e que provavelmente não verá nunca mais.
Os alunos vão, a gente fica…
Deu na Folha:
‘Kill Bill Vol. 2’, a aguardada continuação do novo filme de Quentin Tarantino, que só deve chegar ao Brasil em outubro, estreou em Vitória, capital do Espírito Santo, meses atrás. Engano? Decisão estratégica das distribuidoras? Que nada: pura falcatrua.
No momento em que os espectadores dos grandes centros urbanos formavam fila para assistir ao primeiro filme da série, um grupo de estudantes dos cursos de comunicação, artes e psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) decidiu por conta própria que não haveria motivos para esperar por tanto tempo a chegada do segundo “volume” à capital capixaba. Afinal, tão logo estreou nos cinemas dos EUA, milhares de cópias piratas da produção já circulavam na internet.
O Cine Falcatrua, que acontecia todas as terças no mesmo prédio onde dou aulas, foi censurado após a matéria publicada na Folha de São Paulo. Uma pena…mais do que simplesmente passar filmes interessantes, inusitados, o grande barato era justamente sacudir o esquema e promover a troca de informação. Já está mais do que na hora de rever os paradigmas sobre os direitos das distribuidoras. Iniciativas como essa é que promovem revisão no sistemão!
Destaque para a exibição do filme em que a Xuxa aparece aliciando sexualmente um guri. O mesmo filme, anos depois, seria recolhido de todas as locadoras pela apresentadora infantil, preocupada com a sua (verdadeira?) imagem sendo exposta. Vale ressaltar que esse foi um dia de sessão lotada no Cine Falcatrua!
Chegando ao trabalho hoje, ouvi um barulho diferente. Olha pra cá, olha pra lá…de repente avisto, pousada em um poste de iluminação pública próximo ao prédio onde dou aulas, uma arara azul de peito amarelo.
Eu já estava maravilhado com a danada da arara, quando passam outras duas bem perto da minha cabeça, exibindo as penas de um colorido viçoso, gritando “arara! arara!” com muita vontade.
Perfeito começo de dia!
Hoje durante a aula tivemos a visita de um simpático beija-flor, que entrou por uma das janelas da sala de aula. O danado causou certo furor sobrevoando a sala por muito tempo.
Um visitante mais do que bem-vindo!