Desconstruindo interfaces

Por ocasião da edição de maio de 2010 da Revista Webdesign, fui convidado a responder algumas perguntas para a matéria entitulada “Descontruindo Interfaces”. Minhas respostas foram publicadas praticamente na íntegra, abrindo a matéria. Reproduzo abaixo as perguntas que recebi, e minhas respostas.

Quais são os principais parâmetros utilizados para se avaliar a qualidade de uma interface?

Os parâmetros mudam de acordo com o método de avaliação utilizado, com os objetivos do produto. O próprio conceito de “qualidade” é muito difícil de delimitar. Para um site de e-commerce, qualidade pode ser medida pelo número de produtos comprados, pelo taxa de processos de compra que foram iniciados e finalizados sem abandono de carrinho. Isso não se aplicaria a uma campanha de publicidade online, que busca apenas divulgar um produto ou uma marca. De qualquer forma, pessoalmente acredito em alguns princípios que deveriam ser levados sempre em consideração.

O primeiro diz respeito à facilidade de uso. Com algumas exceções de produtos muito segmentados, acredito que toda interface deve ser de fácil aprendizado, deve ser fácil de usar. A interface visa a permitir a utilização de um sistema de informação, seja ele voltado para fazer compras, para consumo de notícias, para jogos e passatempos ou para mera exposição de uma marca. Deve ser possível identificar as opções de navegação, os mecanismos de interação, e poder com pouco tempo de uso prever resultados de cada interação. Idealmente, mesmo quem nunca usou aquele tipo de produto, deve ser capaz de aprender a usá-lo em pouco tempo.

O segundo diz respeito à universalidade de acesso. Já não é mais tolerável que existam sistemas que excluem pessoas com necessidades especiais. Temos tecnologia, conhecimento e talento suficientes para que isso não ocorra mais. Sistemas que não tem acessibilidade para 100% dos usuários possíveis, não podem ser considerados com boa qualidade. Ao contrário, demonstram incompetência e falta de qualidade.

O terceiro, mais subjetivo, tem a ver com a linguagem. Cada produto tem um público específico, que por mais abrangente que seja, demanda uma linguagem própria para uma comunicação efetiva. Isso é traduzido não só graficamente, mas em cada elemento do discurso que é apresentado: texto, imagem, som, todos os elementos trabalham no sentido de construir essa linguagem. Mas nem sempre vemos produtos com uma abordagem correta dessas questões. Muitas vezes seguem um modismo, sem ter visão crítica, e pecam por não usar uma linguagem adequada ao público ao qual se destinam.

Pela sua experiência, quais seriam os erros mais comuns cometidos na concepção de projetos digitais e interativos, que evidenciam o uso gratuito de elementos e soluções em uma interface?

Um dos erros que percebo é a falta de foco na ação pretendida. Muitas vezes algumas interfaces pecam pelo excesso de elementos e opções de navegação. Embora em alguns casos isso seja uma estratégia, na maioria das vezes causa mais ruído do que ajuda. Isso ocorre mesmo com grandes produtos: a Amazon é um caso exemplar de excesso de opções na interface. Mas, não por acaso, uma vez iniciado efetivamente o processo de compra, as opções de navegação são reduzidas ao mínimo. Ali eles voltam a ter um foco bem claro: finalizar a compra. Mas nem sempre isso é levado em consideração nos produtos interativos. Apresentar muitas informações não é necessariamente melhor. Em muitos casos vale a máxima: less is more.

Outro erro que vejo é o uso de determinada solução sem visão crítica sobre a sua adequação ao problema. Me incomoda o uso indiscriminado do Flash, por exemplo. É uma ferramenta muitas vezes mal utilizada, que gera mais problemas do que benefícios. Normalmente os sites em Flash são mal implementados, ficando inacessíveis para pessoas com necessidades especiais, alterando comportamentos que são padrão na web ou substituindo elementos de navegação do browser por elementos próprios, mais difíceis ou mesmo impossíveis de usar. Costumo ser avaliador de sites, e é assustador ver a quantidade de sites inacessíveis, que “corrompem” comportamentos que deveriam ser esperados na web, sem necessidade. O mesmo tem acontecido com o uso indiscriminado de Ajax, javascript e DHTML. Repetem-se soluções sem a menor crítica, para seguir um modismo.

Um terceiro problema é que os sistemas de informação atualmente demandam uma solução multiplataforma. Não basta funcionar neste ou naquele browser, tem que funcionar em telefones celulares, sejam eles de tela de toque ou não. O iPad da Apple é uma nova plataforma, e outras virão. Esse é um dado que não dá para ignorar. Apesar disso, é assustador ver quantos produtos são dependentes de uma plataforma ou uma solução específica. A não ser que a estratégia seja segmentar o produto, sistemas de informação que não sejam multiplataforma, demonstram falta de qualidade. Têm que funcionar em diferentes condições de uso, nem que seja sacrificando determinadas características do sistema. É possível trabalhar com versões, sem comprometer o acesso ao conteúdo. A solução mais simples muitas vezes é a mais adequada, mas muitos produtos ainda ignoram essa prática. Repito: temos tecnologia, conhecimento e competência suficientes para fazer direito. Desconsiderar essa questão atualmente é um erro grave.

1 de maio de 2010








Desconstruindo interfaces

Por ocasião da edição de maio de 2010 da Revista Webdesign, fui convidado a responder algumas perguntas para a matéria entitulada “Descontruindo Interfaces”. Minhas respostas foram publicadas praticamente na íntegra, abrindo a matéria. Reproduzo abaixo as perguntas que recebi, e minhas respostas.

Quais são os principais parâmetros utilizados para se avaliar a qualidade de uma interface?

Os parâmetros mudam de acordo com o método de avaliação utilizado, com os objetivos do produto. O próprio conceito de “qualidade” é muito difícil de delimitar. Para um site de e-commerce, qualidade pode ser medida pelo número de produtos comprados, pelo taxa de processos de compra que foram iniciados e finalizados sem abandono de carrinho. Isso não se aplicaria a uma campanha de publicidade online, que busca apenas divulgar um produto ou uma marca. De qualquer forma, pessoalmente acredito em alguns princípios que deveriam ser levados sempre em consideração.

O primeiro diz respeito à facilidade de uso. Com algumas exceções de produtos muito segmentados, acredito que toda interface deve ser de fácil aprendizado, deve ser fácil de usar. A interface visa a permitir a utilização de um sistema de informação, seja ele voltado para fazer compras, para consumo de notícias, para jogos e passatempos ou para mera exposição de uma marca. Deve ser possível identificar as opções de navegação, os mecanismos de interação, e poder com pouco tempo de uso prever resultados de cada interação. Idealmente, mesmo quem nunca usou aquele tipo de produto, deve ser capaz de aprender a usá-lo em pouco tempo.

O segundo diz respeito à universalidade de acesso. Já não é mais tolerável que existam sistemas que excluem pessoas com necessidades especiais. Temos tecnologia, conhecimento e talento suficientes para que isso não ocorra mais. Sistemas que não tem acessibilidade para 100% dos usuários possíveis, não podem ser considerados com boa qualidade. Ao contrário, demonstram incompetência e falta de qualidade.

O terceiro, mais subjetivo, tem a ver com a linguagem. Cada produto tem um público específico, que por mais abrangente que seja, demanda uma linguagem própria para uma comunicação efetiva. Isso é traduzido não só graficamente, mas em cada elemento do discurso que é apresentado: texto, imagem, som, todos os elementos trabalham no sentido de construir essa linguagem. Mas nem sempre vemos produtos com uma abordagem correta dessas questões. Muitas vezes seguem um modismo, sem ter visão crítica, e pecam por não usar uma linguagem adequada ao público ao qual se destinam.

Pela sua experiência, quais seriam os erros mais comuns cometidos na concepção de projetos digitais e interativos, que evidenciam o uso gratuito de elementos e soluções em uma interface?

Um dos erros que percebo é a falta de foco na ação pretendida. Muitas vezes algumas interfaces pecam pelo excesso de elementos e opções de navegação. Embora em alguns casos isso seja uma estratégia, na maioria das vezes causa mais ruído do que ajuda. Isso ocorre mesmo com grandes produtos: a Amazon é um caso exemplar de excesso de opções na interface. Mas, não por acaso, uma vez iniciado efetivamente o processo de compra, as opções de navegação são reduzidas ao mínimo. Ali eles voltam a ter um foco bem claro: finalizar a compra. Mas nem sempre isso é levado em consideração nos produtos interativos. Apresentar muitas informações não é necessariamente melhor. Em muitos casos vale a máxima: less is more.

Outro erro que vejo é o uso de determinada solução sem visão crítica sobre a sua adequação ao problema. Me incomoda o uso indiscriminado do Flash, por exemplo. É uma ferramenta muitas vezes mal utilizada, que gera mais problemas do que benefícios. Normalmente os sites em Flash são mal implementados, ficando inacessíveis para pessoas com necessidades especiais, alterando comportamentos que são padrão na web ou substituindo elementos de navegação do browser por elementos próprios, mais difíceis ou mesmo impossíveis de usar. Costumo ser avaliador de sites, e é assustador ver a quantidade de sites inacessíveis, que “corrompem” comportamentos que deveriam ser esperados na web, sem necessidade. O mesmo tem acontecido com o uso indiscriminado de Ajax, javascript e DHTML. Repetem-se soluções sem a menor crítica, para seguir um modismo.

Um terceiro problema é que os sistemas de informação atualmente demandam uma solução multiplataforma. Não basta funcionar neste ou naquele browser, tem que funcionar em telefones celulares, sejam eles de tela de toque ou não. O iPad da Apple é uma nova plataforma, e outras virão. Esse é um dado que não dá para ignorar. Apesar disso, é assustador ver quantos produtos são dependentes de uma plataforma ou uma solução específica. A não ser que a estratégia seja segmentar o produto, sistemas de informação que não sejam multiplataforma, demonstram falta de qualidade. Têm que funcionar em diferentes condições de uso, nem que seja sacrificando determinadas características do sistema. É possível trabalhar com versões, sem comprometer o acesso ao conteúdo. A solução mais simples muitas vezes é a mais adequada, mas muitos produtos ainda ignoram essa prática. Repito: temos tecnologia, conhecimento e competência suficientes para fazer direito. Desconsiderar essa questão atualmente é um erro grave.

1 de maio de 2010