Debate: o belo e o bom no design para web
Dentre os diversos temas contidos no dicionário escolar de filosofia, Aires Almeida aborda a questão da filosofia da arte. De Platão aos pensadores contemporâneos, a definição do “o que é belo?” passaria a ser compreendida pela noção de estética, instigando a busca pelos campos da subjetividade (ligado ao gosto e ao interesse pessoal) e da objetividade (ligado aos conceitos e às técnicas). Trazendo esta discussão para o design na web, você considera que a análise estética de um site envolve parâmetros objetivos ou subjetivos?
Como designer, penso que os projetos de sites trazem questões semelhantes a tantos outros projetos tipicamente desenvolvidos por designers. Seja um cartaz, seja o projeto de um livro, seja um sistema de indentidade visual, os designers sempre equacionam questões que podem ser esquematicamente separadas, para fins meramente didáticos, em dois pólos. De um lado estariam as questões mais objetivas, funcionais, pragmáticas. De outro lado, as questões mais subjetivas, emocionais.
Se olharmos em perspectiva histórica, veremos que no design do período moderno houve uma tendência a valorizar os aspectos objetivos, funcionais dos objetos. Se olharmos os projetos do final da década de 80 até meados dos anos 90, veremos que subverte-se essa lógica; os aspectos subjetivos eram elevados, muitas vezes em detrimento de questões funcionais prementes, como a legibilidade. Designers como Neville Brody e David Carson, por exemplo, muitas vezes desenvolviam peças gráficas praticamente ilegíveis, a reboque de uma expressão gráfica pessoal, cuja leitura ficava restrita a um público seleto que compartilhava um mesmo repertório visual.
Ressalto mais uma vez que essa polarização entre objetvidade e subjetividade a que me referi é meramente esquemática; em que pese a valorização da função nos projetos do período moderno, não se pode afirmar que desconsiderava-se os fatores subjetivos, emocionais, assim como não se pode dizer que os designers citados desconsideravam a função dos objetos que estavam criando. Assim, não se pode analisar um projeto qualquer sem levar em conta tanto os aspectos objetivos quanto os subjetivos.
Cabe lembrar que nós designers sempre desenvolvemos “objetos” para serem utilizados por alguém. O design trabalha desenvolvendo a interface que permite que uma pessoa utilize determinado “objeto”, com um fim específico. Esse “objeto” pode ser um website, por exemplo. O que torna justamente difícil definir critérios para análise é justamente a sobreposição de questões objetivas, funcionais, e questões subjetivas, que podem variar de pessoa a pessoa. Antes de mais nada deve-se analisar qual a finalidade do objeto desenvolvido, e quem vai usar este objeto. Não é lógico analisar com os mesmos critérios um site desenvolvido para uma empresa de games e o site de um banco de investimentos. Os projetos partem de premissas completamente diferentes, voltados para públicos distintos e com funções de uso diversas. É preciso antes de tudo entender o contexto de uso para perceber quais são os aspectos mais importantes que deveriam ser levados em consideração nesta análise. Embora existam “gurus” de usabilidade pregando mandamentos invioláveis, há que se perceber que os projetos pedem soluções distintas, que em alguns casos podem “violar” tais “mandamentos”. Por outro lado, os designers devem evitar a repetição de um repertório visual que “está na moda” de maneira acrítica, sem levar em conta o contexto de uso do projeto a ser desenvolvido.
Percebe-se que a análise estética de um site envolve parâmetros objetivos ou subjetivos. Envolve ambos, em escalas distintas de acordo com o contexto de uso do site em questão.
1 de agosto de 2006